Paris 2024 foi um sintoma espetacular de nossa existência acelerada

Se há algumas Olimpíadas os smartphones não eram algo sequer imaginável, em Paris 2024 eles foram vistos em locais de prova e em pódios. Há poucas edições, as partidas estavam restritas a poucos canais que detinham os direitos de transmissão, a maioria dos quais pagos, impossibilitando que o grande público as acompanhasse. Em Paris, entretanto, os jogos, graças à transformação digital, estiveram nas mãos de qualquer um que tivesse sua própria tela inteligente portátil. Puderam ser vistos de casa, do ônibus ou metrô, daquele carro de aplicativo — também um produto destes tempos atuais —, até mesmo do trabalho, seja no almoço, café ou em pequenas pausas. E não era necessário ter uma conta paga Globoplay para assistir pelo SporTV, não. Bastavam três cliques para entrar no YouTube e abrir uma transmissão ao vivo do CazéTV. Apesar das polêmicas sobre a narração e transmissão do canal em questão, não se pode negá-lo como um autêntico exemplo da democratização da informação, tão característica da era digital. Fora as dezenas de portais, especializados ou não, dedicados à cobertura dos Jogos Olímpicos de Paris, e à análise dos mesmos. E as dezenas mais orientadas ao que acontecia em paralelo — não faltaram “fofocas olímpicas” para entreter a massa tuiteira. Algumas das fontes, dizem, eram os próprios atletas e comissões. O contato direto com um comunicador interessado está a um whatsapp de distância, afinal. As imagens, os takes, os efeitos de câmera — inclusive para analisar e reanalisar jogadas e técnicas — foram um espetáculo por si só. Chamaram a atenção mesmo dos leigos mais “desligados” a esse tipo de tecnologia.  A abertura ao ar livre, apesar da forte chuva, de algumas opiniões não tão positivas e dos muitos memes, foi, sim, diferente de tudo já feito antes. E as escolhas da cidade sede, tanto em discurso como na prática, alertaram para as questões ambientais desde o dia 1. Paris 2024 trouxe o calor humano de volta, mas já durante os tempos sombrios que vivemos durante Tóquio 2020 (adiados para 2021), foi também graças às possibilidades digitais que, mesmo de tão longe, o mundo pôde acompanhar tudo “de perto”.  O que o futuro nos reserva? Os Jogos Olímpicos de 2024 nos fizeram refletir sobre muitas questões: de incentivo ao esporte à sustentabilidade, de questões raciais às de gênero. Todas para lá de necessárias. Mas eles foram sintoma, sobretudo, da aceleração dos tempos em que vivemos. Das mudanças em prazo recorde. O que era válido há um ano pode se tornar obsoleto nos dias de hoje. Ao mesmo tempo, a produção de bens duráveis é uma necessidade ambiental.  Estamos evoluindo como nunca antes, alcançando patamares tecnológicos que seriam inacreditáveis, não fossem facilmente testáveis e prováveis. Tudo isso com a pressão para que se evolua no presente possibilitando o futuro. Um futuro sustentável. Um futuro com futuro.  Como estaremos nos próximos Jogos? Quanta coisa poderá mudar em mais quatro anos? O que esse futuro nos reserva? Quais suas apostas?

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