ESG e o consumidor sustentável: teoria versus prática
Muito se tem falado sobre sustentabilidade, ESG e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos em agenda da Cúpula das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, em 2015. Ao mesmo tempo, o consumidor, cada vez mais bem informado, vem se mostrando mais preocupado e exigente com as questões sustentáveis —— ao menos em teoria. Tem crescido, de fato, o número de pessoas que afirmam saber do que se trata o ESG. É o que mostram as pesquisas. Entretanto, tal noção não necessariamente os torna consumidores sustentáveis. Afinal, não basta o conhecimento, se as relações de consumo pouco ou nada mudam. Dados da pesquisa “Impacto ESG no Varejo” mostram que 85% dos entrevistados assumem ter práticas de consumo que não contribuem positivamente para o planeta. O estudo, já em sua segunda edição, foi realizado pela Mosaiclab para o Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), com resultados divulgados no segundo semestre de 2023. O fator que acaba prevalecendo, na prática, é o preço. Prova disso é a crescente de vendas em sites de produtos importados, onde itens variados podem ser encontrados por valores abaixo da média. Pouco se sabe sobre a origem e a cadeia produtiva dos itens adquiridos nessas plataformas. Ainda assim, eles são negócios de sucesso. As recentes taxações, inclusive, geraram furor negativo entre os consumidores brasileiros. Em um país onde a esmagadora maioria da população pertence às classes C, D e E, ainda prevalece o “S” do ESG como fator de importância mais imediata. O âmbito social em sustentabilidade Quando se fala em sustentabilidade, muitos pensam somente em aspectos ambientais, sem se dar conta de que, na verdade, a sustentabilidade é um conceito muito mais amplo. Uma das análises mais interessantes (e assertivas) sobre o tema é de autoria do economista francês Ignacy Sachs. Referido também como um ecossocioeconomista, Sachs divide a sustentabilidade em cinco dimensões: Desconsiderando o puro aspecto discursivo, o âmbito social é o que parece ter maior relevância para o consumidor brasileiro, a curto prazo. Para as classes C, D e E, as quais, vale reforçar, são maioria da população, o interesse reside nas relações trabalhistas,em mais oportunidades de emprego e salários justos. Quanto aos demais aspectos, a tendência do consumidor ainda é mais orientada à expectativa que à prática. Em outras palavras, espera-se que a cadeia produtiva responsabilize-se pela adoção de práticas e produtos sustentáveis, ainda que tais práticas não sejam estendidas ao âmbito pessoal e doméstico. E espera-se, ainda, que os detentores dos meios de produção sejam mais transparentes quanto à sua cadeia produtiva. É a ética tão fundamental à governança. Quem é o consumidor sustentável A escolha responsável ao comprar e consumidor produtos é apenas uma de várias atitudes de um consumidor sustentável. Ele venceu a obsolescência percebida, ou seja, já não descarta um produto em perfeito funcionamento devido ao surgimento de um tecnologicamente mais avançado. Em paralelo, frequentemente não se importará em pagar um valor mais alto, desde que tenha confiança de que aquele produto foi produzido sob práticas sustentáveis. O consumidor sustentável leva o tema para a vida pessoal, para dentro de casa. Realiza coleta seletiva, faz sua parte na redução da emissão de poluentes — andar de bicicleta ou optar pelo transporte público são bons exemplos. Ele planeja suas compras, evita o desperdício, busca itens refiláveis e produtos reciclados (e recicláveis), tem preferência por bens duráveis, lê rótulos atentamente, entre outras práticas. E não é porque esse consumidor está se materializando lentamente que a cadeira produtiva não deva ter olhar atento para ele, e para si mesma, no sentido de se adaptar para atender às suas exigências. A informação é o primeiro passo para a mudança, e ela é crescente. O compromisso pela sustentabilidade, estabelecido pela ONU já há quase dez anos, tem se tornado mais e mais urgente. Não se produz olhando apenas para o presente, mas para o futuro. E o futuro não simplesmente será, mas precisará ser sustentável. Gostou de conhecer mais sobre o consumidor sustentável? Leia também:
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